Simplesmente, Íris

23-12-2013 10:10

Dona Íris era uma senhora muito engraçada e amiga que morava no mesmo prédio que eu. Trabalhava desde a hora que acordava até a hora de dormir. Descendente de escravos de Minas Gerais, ela sempre pregava a ordem, o trabalho bem feito e o respeito. Ensinava a quem quisesse, qualquer trabalho de casa: lavar, passar, costurar, cozinhar, cuidar de marido, dos filhos e o que mais que se referisse às prendas domésticas.

 

Durante muitos anos, tive o prazer de conviver no mesmo prédio com essa pessoa incrível que me deu muitas lições de vida. Ela ficava uma fera quando eu começava a reclamar da vida na frente dela. E tinha uma frase que ela sempre falava: “toma vergonha nessa cara, uma mulher nova dessa com preguiça”. Não tinha desânimo que continuasse.

 

Ao completar 18 anos, resolvi que iria chamar meus cinco melhores amigos para jantar comigo: Monica, Márcia, Mardilene, Ivete e Roger. Claro, dona Íris seria convidada, os amigos eram os que estudavam comigo. Iria chamar mais uns três vizinhos. Ao se aproximar, a data desse jantar, na semana, um cano da cozinha lá de casa, começou a causar vazamento no apartamento da vizinha e com isso, obrigatoriamente, teria que ser feita uma obra imediatamente.

 

Falei com dona Íris que não ia mais fazer nada por causa desse problema e ela imediatamente, falou: “Por que não faz aqui em casa?”. Eu olhei pra ela, e falei: Será que vai caber meus 5 amigos e mais eu e a senhora?. Ao me provar que daria tudo certo, organizei o pacote, peguei os ingredientes para fazer a comida que eu tinha programado: estrogonofe de frango, arroz, batata palha e uma salada de rúcula e alface. Dona Íris fez o arroz e eu o resto da comida. No dia 15 de agosto de 1982, o jantar foi servido para os meus amigos, numa casa bem organizada, no maior alto astral. Rimos, conversamos sobre tantas coisas e vidas que nem vimos o tempo passar.

 

Aquele aniversário foi o mais importante da minha vida até hoje por ter ganhado de presente, a solidariedade de uma pessoa que nunca se cansava de doar e que pouco recebia de volta.

 

À dona Íris que já não está mais entre nós, a minha singela homenagem.

 

                                                                                                                                                  Mônica Banderas

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